Hoje está completando um ano do incêndio que destruiu o Museu Nacional na Quinta da Boa Vista. Infelizmente não poderei mais organizar um tour para este museu como antes. O Brasil e o mundo perderam uma parte expressiva dos registros que remontam a história da humanidade desde a Antiguidade. O museu era considerado um dos maiores acervos de antropologia e de história natural do país, com nada menos de 20 milhões de itens.
Fundado por Dom João VI em 6 de agosto de 1818 (há 201 anos) sua coleção foi sendo aumentada com o passar dos anos, principalmente por D. Pedro II que muito contribuiu. Em suas viagens ele adquiria objetos, ele era um erudito, e possuía reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, cultura e ciências. Ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur, Jean-Martin Charcot, Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros. Também Dona Teresa Cristina sua esposa, com seu entusiasmo pelas artes e o incentivo às coleções de arqueologia, contribuiu com um legado significativo na história da sociedade brasileira e do acervo deste museu. Filha de Francisco I, rei das Duas Sicílias (Itália), e esposa de D. Pedro II aos 21 anos de idade, graças ao relacionamento de D.Teresa Cristina de Bourbon com instituições Italianas, trouxe para o Brasil importante acervo de Pompéia, por exemplo. É possível ver a relação detalhada do que foi doado e comprado pelo Brasil no livro lançado em pela EdUERJ em 2014, Teresa Cristina de Bourbon: uma imperatriz napolitana nos trópicos 1843-1889, de Aniello Angelo Avella.
Isto, sem falar nos anos e mais anos de pesquisa, de coleta de campo de naturalistas. Ainda me lembro da vasta coleção de borboletas, besouros, aves e outros animais.
Com a proclamação da República o acervo do museu foi colocado no Palácio de São Cristóvão. Este edifício por si só, já era uma preciosidade histórica, pois foi residência oficial da família Imperial, conhecido como o Paço Imperial da Quinta de São Cristóvão. Era em estilo Neoclássico, e suas dependências guardavam pinturas e primorosos trabalhos em estuque e madeira. A destruição do edifício e de sua mobília apaga uma parte da nossa história.
Agora, só nos resta um tour virtual ao qual os convido, disponível no site https://artsandculture.google.com/project/museu-nacional-brasil, que proporciona uma viagem imersiva em 360º pelas salas do museu antes do incêndio, com oito exposições e 164 relíquias. A visita guiada é acompanhada por áudios sobre os destaques de cada sala, feitos com curadoria dos pesquisadores do museu.
O Museu Nacional ficará para sempre na minha memória afetiva. Ainda me lembro quando menina, em passeio da escola, visitei este museu pela primeira vez. Meus olhos brilhavam a cada nova sala. E naquele labirinto de salas e exposições mais que conhecimento, o gosto pelo saber me transformou para sempre. A minha curiosidade foi ali despertada. Ver o esqueleto de baleia e o fóssil de um dinossauro foi muito impactante para uma criança de sete anos. E a múmia egípcia? Uma emoção sem tamanho! Começava ali a minha paixão por museus e o meu amor pela História.