No início do povoamento do Rio de Janeiro, entre o século XVI e o XVII, dependendo da fase da lua, viver na cidade significava enfrentar a quase absoluta escuridão. Com o tempo, ela passou a ser quebrada pela luz escassa de velas, candeeiros e lamparinas a óleo de baleia, nas residências e nos espaços religiosos, como igrejas e conventos. Antes do uso da eletricidade, tecnologia implantada na virada para o século XX, o gás de carvão mineral foi uma solução possível, mas não chegava a todos os bairros. Graças à evolução do setor, passamos a ter um maior convívio urbano – traço tão típico da alma carioca – também no período noturno.
A primeira fonte pública de luz do Rio foi um pequeno lampião, instalado em 19 de setembro de 1710, no Convento de Santo Antônio, que fica num ponto alto do Largo da Carioca. Todos os dias às 18:30 ele era aceso. Segundo historiadores, no século XVIII eram os oratórios, nas fachadas das construções, com imagens de santos e luzes devocionais, que serviam de iluminação pública e marcavam o itinerário das procissões.
Em 1763, quando o Rio se transformou na capital do Brasil Colônia, viviam na cidade somente 30 mil habitantes. Foi apenas na última década daquele século que começaram a ser colocados os primeiros postes com lampiões, no trecho entre a Rua Primeiro de Março e o Campo de Santana, por iniciativa do Conde de Resende, Vice-rei do Brasil. Começava assim em fins do século XVIII, a iluminação pública por candeeiros à óleo de baleia.
O impulso que faltava para a realização de alguma benfeitoria desembarcou com a família real portuguesa e sua comitiva de 15 mil pessoas. Era chegada a hora de a cidade conhecer grandes eventos festivos e, também, de combater o paulatino aumento da criminalidade. A tarefa ficou a cargo do desembargador do Paço e ouvidor-geral do Crime, Paulo Fernandes Viana. Logo havia lampiões colocados em pontos estratégicos, que eram acesos ao cair da noite e apagados ao amanhecer. Quanto ao custo dos serviços, assim como hoje, ele ficava por conta de particulares.
Nos anos 1850, para uma população de 60 mil pessoas, existiam no município quase 2 mil lampiões iluminando as ruas, acesos por funcionários apelidados de “profetas”, já que carregavam varas parecidas com cajados com as quais acendiam a chama.
Só a partir de 1854, o Barão de Mauá deu início a um sistema que tornou o Rio de Janeiro a primeira cidade brasileira iluminada a gás. A hulha, ou carvão mineral, que era queimada para a produção do combustível vinha da Inglaterra. Além de incluir dois gasômetros, a rede incluía a instalação de 20 quilômetros de encanamento de ferro para a distribuição realizada em dois trechos: entre o Catete e o Cais do Valongo, e entre a Praça Quinze e o Campo de Santana.
Em 1860, para atender também ao serviço urbano de iluminação, outra obra foi realizada – a abertura do Canal do Mangue, por onde se escoavam os resíduos industriais. Mais uma mudança significativa na paisagem carioca diz respeito aos postes, que entraram em cena. E, com eles, um capítulo decorativo da história da cidade, preservado em imagens de época, como as inúmeras fotos de Augusto Malta.
Já em 1879 foram feitas as primeiras experiências com lâmpadas elétricas à arco voltaico. Diversos prédios foram iluminados por geradores, mas foi somente em 1907 começaria a funcionar a plena força a “The Rio de Janeiro Light and Power Company”, mais conhecida como Light. Fundada no Canadá em 1904, a empresa cuidou dos carris, força e luz da cidade até a década de 1970.
O primeiro prédio da cidade a ter energia elétrica foi a Estação Central do Brasil, em 1879. A partir de 1905, com a abertura da Avenida Beira Mar e da Avenida Central, atual Rio Branco, gás e eletricidade passaram a compartilhar a tarefa de iluminar a cidade. Havia, então, dois tipos de postes diferentes, o que perdurou por quase três décadas. Naquela época, o Rio já contava com 350 quilômetros de fiação subterrânea e aérea para atender a uma população de 800 mil habitantes. Com o crescimento da demanda, o monopólio do gás no Rio passou para um grupo inglês e, mais tarde, para uma empresa belga – a Societé Anonyme du Gaz do Rio de Janeiro, a SAG, que aumentou o alcance da tubulação para 500 quilômetros.
A evolução tecnológica gerou uma sequência de dispositivos: das lâmpadas incandescentes às fluorescentes, passando pelo vapor de mercúrio, pelo vapor de sódio de alta pressão, pelos multivapores, para, enfim, chegar ao atual LED (sigla em inglês para “diodo emissor de luz”). A substituição por esse tipo de lâmpada, que pode durar até dez anos, pode gerar redução nos custos de manutenção da iluminação pública da cidade, hoje paga por todos os contribuintes. Até a Ponte Rio-Niterói, com seus mais de 13 quilômetros de extensão, teve sua iluminação completamente substituída pelo LED.
Toda a iluminação pública do Rio de Janeiro vem sendo modernizada com lâmpadas de LED e algumas com uso de energia solar, como no Arco-Metropolitano. As lâmpadas LED já podem ser encontradas em diversos locais, como o Cristo Redentor e o Parque de Madureira.
Fonte: EDMUNDO, Luiz, O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis. ,1956.
COARACY, Vivaldo. Memórias da Cidade do Rio de Janeiro. ,1955. e Museu da Light.