Categoria: carpediem

A Maldição dos Bragança

Tanto D. Pedro I quanto o pai, D. João VI, assim como seus antecessores e sucessores, deveriam ter assumido, não o trono português, mas as propriedades e as riquezas da Casa do Infantado, entre elas o Palácio de Queluz. No entanto, o mesmo ancestral que levara os Bragança ao poder se tornaria responsável direto por uma maldição que viria a acometer seus descendentes.

Antes de sua aclamação como rei de Portugal, quando era somente o oitavo duque de Bragança, D. João IV teria se irritado com um irmão leigo franciscano que fora lhe pedir esmolas. Sem paciência, mandou o religioso retirar-se e aplicou-lhe um pontapé na canela, onde se criou um machucado em forma de escama de peixe. Ressentido pela forma gratuita como fora maltratado, o franciscano rogou-lhe a seguinte praga:

             “A sua descendência nunca passará pelo primogênito, e os que lhe sucederem, Deus permita, tenham o mesmo sinal na perna que o senhor me produziu.”

Ao subir ao trono, D. João IV, temendo a praga do religioso, criou a tradição de apresentar os membros recém-nascidos da família de Bragança aos altares da ordem mendicante de São Francisco, bem como de sempre assistir às festas do santo.

D. João VI e D. Pedro I ainda acrescentariam uma esmola de 600 réis para a comemoração, à qual assistiam antes de irem jantar no refeitório comum dos frades da ordem, com a clássica colher de pau comum a todos os comensais.

Nada disso, porém, faria a maldição lançada contra a família arrefecer: raros foram os primogênitos que subiram ao trono e reinaram por tempo suficiente para deixar herdeiros.

D. Pedro I foi o segundo varão a nascer. Seu irmão, D. Antônio, então com três anos, era o príncipe da Beira, herdeiro do trono. Os filhos de D. João com D. Carlota só começaram a nascer após a morte por varíola do irmão mais velho do príncipe, D. José, aos 27 anos, em 11 de setembro de 1788.

O primeiro filho de D. Pedro II foi recebido pelos braços do pai orgulhoso, logo que nasceu: “um príncipe de Deus”, exclamou ele! Era 23 de fevereiro de 1845. Chamaram-no Afonso Pedro. Não recebeu o nome de Pedro, dizem biógrafos, pois se temia a tradição da casa de Bragança segundo os quais primogênitos morriam pequeninos. A criança foi conduzida a pia batismal com entusiasmo, pois afastava qualquer dúvida sobre a sucessão do imperador. D. Pedro II deixava de ser o “órfão da pátria”, como era conhecido, para ser o chefe da casa brasileira, sadia e fecunda.

A 29 de julho de 1846, foi a vez da Princesa Isabel, cujo nome se deveu a avó materna e às duas rainhas santas, a da Hungria, sua patrona, e a de Portugal. Teve belo batizado com água vinda do rio Jordão, na Palestina.  A 11 de junho de 1847, era o fim dos dias felizes. Morreu o príncipe imperial D. Afonso Pedro de convulsões. Um mês depois, nascia a princesa Leopoldina, nome da primeira imperatriz. A seguir, chegou o filho desejado: D. Pedro Afonso, a 19 de julho de 1848. Mas, de repente, a 9 de janeiro de 1850, D. Pedro Afonso, também, na flor da idade, “terminou sua preciosa existência na Imperial fazenda de Santa Cruz”.

A morte do último futuro herdeiro, foi considerada pela imprensa da época como “uma calamidade”! O povo apinhado nas ruas viu em silêncio passar o pequeno caixão. O Imperador se voltou para as duas filhas, Isabel e Leopoldina. Era pai devotadíssimo. Fazia pessoalmente leituras para as meninas, dava-lhes lições de matemática e latim, explicava-lhes física. Escolhia a dedo os professores de inglês, alemão, mineralogia, geologia e história.

Fonte: Rezzuti, Paulo. D. Pedro I – A História Não Contada, ed. Leya, 2015.

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