Paschoale Segreto (1868-1920)
Os jornais do Rio de Janeiro, no dia 23 de fevereiro de 1920, tinham em suas primeiras páginas a notícia do falecimento de Pascoal Segreto. No dia seguinte, foram publicadas matérias e fotos sobre o enterro que mobilizou toda a cidade, e durante mais de uma semana, vários jornais publicaram colunas a respeito do “popular empresário Paschoal Segreto” (Correio da Manhã, 23 fev. 1920). Segundo o jornal Correio da Manhã, o cortejo fúnebre foi acompanhado por 500 carros contendo aproximadamente duas mil pessoas, além de centenas de outras que se amontoavam para ver o corpo do falecido. Ainda segundo a mesma matéria: “Não há exemplo de enterro tão concorrido como esse, tratando-se de um homem do povo” (Correio da Manhã, 24 fev. 1920). Foram várias as personalidades que estiveram na localidade ou que mandaram representantes.
A trajetória de vida de Paschoal Segreto, tendo chegado no Rio de Janeiro em 1883, vindo da Itália, criou e garantiu a hegemonia de grande parte do mercado de lazer na capital federal até o ano de 1920, data de seu falecimento, estendendo seus negócios até a cidade de Campos, Petrópolis, Juiz de Fora e São Paulo. A carteira de negócios de Paschoal incluía salas de cinema, teatros, cafés e vários outros empreendimentos.
Inaugurou, em 1897, a primeira sala de cinema do Brasil, na rua do Ouvidor, então a rua chic da Belle Époque carioca.
A chegada à então capital do Império se deu quando ainda novo, com apenas 15 anos. Na data de sua morte, em 22 de fevereiro de 1920, com 52 anos, já era um ilustre morador do Rio de Janeiro. Os noticiários da época publicaram durante vários dias a notícia de seu falecimento, destacando sua personalidade, seus negócios, sua família e outras peculiaridades de sua vida. As extensas e ilustradas matérias serviram para a consolidação do mito de Paschoal Segreto como o grande homem dos divertimentos públicos cariocas.
O caixão saiu às 16 horas da residência de Paschoal, na rua Corrêa de Sá, no 3, em Santa Teresa, próxima ao Largo dos Guimarães, e foi encaminhado para um bonde da Companhia Ferro Carril Carioca, que partiu em direção ao centro da cidade. Chegando meia hora depois ao Largo da Carioca, o cortejo dirigiu-se para a Praça Tiradentes, onde ficava a maioria dos negócios de Paschoal (Jornal do Brasil, 24 fev. 1920). Tendo chegado à praça, o caixão passou em frente aos seus empreendimentos, a Maison Moderne, o Teatro Carlos Gomes e, por fim, parou em frente ao Teatro São Pedro, onde foi o ataúde colocado em um coche de primeira classe, de estilo Luís XV, que era puxado por quatro imponentes cavalos negros. O préstito passou pela rua Visconde do Rio Branco, avenidas Gomes Freire e Mem de Sá, ruas Maranguape, Lapa, Glória, Catete, Marquês de Abrantes, Praia de Botafogo e ruas da Passagem e General Polidoro. Chegou ao cemitério São João Batista, em Botafogo, pouco depois das 17h30. Vicente Ferreira, que, segundo os jornais, era um conhecido orador popular, pronunciou as últimas palavras, enaltecendo as qualidades do falecido e, só então, o caixão desceu definitivamente ao carneiro número 2.806 da quadra 41.
Os dois irmãos conseguiram montar grandes empreendimentos no Rio de Janeiro. Gaetano Segreto foi trabalhar com a venda de jornais e ficou conhecido também por implementar o sistema de bancas fixas, sendo, posteriormente, dono do jornal Il Bersagliere, além de um influente membro da comunidade italiana tanto no Rio como em São Paulo. Paschoal se voltou para o ramo dos divertimentos públicos, tornando-se dono de vários teatros, casas de espetáculo e jogos. De fato, os irmão sempre estavam juntos nos negócios e em diversas transações comerciais Gaetano aparece como procurador de Paschoal.
No campo cinematográfico, uma das iniciativas mais arrojadas de Paschoal foi enviar seu irmão, Afonso Segreto, para Nova York e Paris no intuito de conhecer as novas técnicas cinematográficas e trazer equipamentos para a empresa. Em janeiro de 1898, embarcava Afonso Segreto para a América do Norte. Quando de sua volta ao Brasil, em 19 de julho do mesmo ano, desembarcou do navio Brésil, que havia saído de Boudeaux, na França. Afonso era então um dos poucos conhecedores das técnicas da produção cinematográfica no país, pois, quando de sua estada em Paris, fez um curso na Pathé Films. A bordo do paquete Brésil fez a primeira filmagem no Brasil, filmando a entrada da Baía de Guanabara. Depois dessa primeira experiência, os irmãos Paschoal e Afonso Segreto passaram a registrar regularmente celebrações da sociedade civil, cenas da cidade do Rio de Janeiro, bem como eventos sociais da elite carioca.
Além da importância no campo cinematográfico, Paschoal teve papel central na montagem de casas de divertimento e no campo teatral. No ramo dos cafés e de cervejaria, um de seus maiores empreendimentos foi a Maison Moderne, localizada na Praça Tiradentes, onde conseguiu agregar várias formas de entretenimento em um só lugar. O estabelecimento era um parque de diversões que contava com galeria de tiro-ao-alvo, roda-gigante, montanha-russa e um pequeno teatro. Foram lá também disputados os célebres torneios de luta greco-romana, além de ser o espaço para os que apreciavam beber. Curiosidade acerca da Maison Moderne é que alguns anos antes ela era chamada de Moulin Rouge. Talvez então pudéssemos dizer que a Praça Tiradentes era o Montmatre carioca com direito ao seu próprio Moulin com suas dançarinas de cancã.
A Maison Moderne era um lugar onde o espectador poderia pagar um preço módico para aproveitar os divertimentos. No entanto, Paschoal abriu também lugares onde a população mais abastada pudesse se entreter. Neste sentido, uma das suas casas mais conhecidas era o High Life Club, que se localizava no bairro da Glória. Esse lugar tinha como público alvo a elite carioca. Paschoal abriu locais para as camadas médias e alta da população carioca.
Além da Maison Moderne e do High Life, possuía também o Parque Fluminense, em Laranjeiras, e o Pavilhão Internacional, localizado na avenida Central, atual Rio Branco. Mas o local onde Paschoal ergueu seu império de diversão foi na Praça Tiradentes, considerado o berço do teatro de revista. Além do Maison Moderne, Segreto também detinha na área o Teatro Carlos Gomes e o arrendamento do Teatro São Pedro, um dos mais antigos da cidade. Em fins do século XIX, o teatro já tinha tradição de ser um lugar de sociabilização. Nessa mesma época um dos gêneros teatrais mais assistido era o teatro de revista. Ao perceber que poderia auferir lucros com o negócio, Paschoal passou a financiar os espetáculos teatrais. Ficou tão conhecido que o ator Procópio Ferreira chegou a referir-se a ele como o “papa do teatro brasileiro”. Uma das iniciativas que mais contribuiu para tamanha popularidade foi a fundação da Companhia de Operetas, Mágicas e Revistas do Cine-teatro São José, em 1911. A casa vivia cheia porque o empresário adotava a fórmula do teatro por sessões, com duas a três apresentações por dia do mesmo espetáculo a preços populares. Dessa forma, Paschoal conseguiu popularizar o teatro levando-o às camadas mais baixas e médias da população.
Fonte: Martins, William de S. N. – Paschoal Segreto “Ministro das Diversões do Rio de Janeiro” (1883 – 1920) (Mestre em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ)
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